terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Em média, professor da rede pública ganha mais que da particular

19/01/2008 - 09h43
ANTÔNIO GOIS
da Folha de S.Paulo, no Rio
FÁBIO TAKAHASHI
da Folha de S.Paulo

Os professores da educação fundamental das escolas públicas (estadual e municipal) do país ganham, em média, mais do que os da rede particular.

Os docentes de 1ª a 4ª série (o antigo primário) das escolas estaduais têm um rendimento mensal médio de R$ 1.398, ante R$ 1.051 das municipais e R$ 1.048 das particulares.

A constatação está presente em tabulações da Pnad 2006 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE) feitas por Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE e atual presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade. Dados do Ministério do Trabalho confirmam o panorama.

A rede pública paga mais também na 5ª a 8ª (antigo ginásio) e da educação superior.

No antigo ginásio, a média no sistema estadual é de R$ 1.347, contra R$ 1.120 na particular --a municipal paga R$ 1.230.

O sistema particular só oferece salários maiores no ensino médio (antigo colegial).

A lógica se mantém mesmo quando se simula que todos os educadores do país tivessem a mesma jornada.

Uma das explicações para que a média na rede particular seja mais baixa é sua heterogeneidade. Na capital paulista, por exemplo, há escolas de regiões mais pobres em que os salários não chegam a R$ 700, enquanto outras escolas de ponta, como o Santa Cruz (em Pinheiros), pagam mais de R$ 8.000.

Essa diferença salarial entre os colégios reflete na qualidade de ensino no setor privado.

As médias no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) entre as dez escolas particulares de São Paulo de melhor salário variam de 68 a 58, numa escala de 0 a 100. Entre as dez com piores salários, a variação é de 47 a 56. O ranking de rendimentos foi feito pelo sindicato dos professores da rede particular no ano passado.

A oscilação salarial não costuma ter tanto impacto nas redes públicas. No sistema estadual de São Paulo, por exemplo, a diferença entre o piso e o teto da 1ª a 4ª séries é de 92,3%.

A grande diferença entre os Estados também ajuda a explicar as baixas médias. O cruzamento dos dados da Pnad 2006 com o Censo dos Profissionais do Magistério da Educação Básica, feito em 2003 pelo MEC, aponta que os salários da rede privada no Nordeste puxam a média nacional para baixo.

Em Sergipe, por exemplo, a rede particular pagava R$ 410, contra R$ 628 da pública.

Naquele ano, as redes privadas do Distrito Federal e de São Paulo pagavam uma média superior a R$ 1.200.

Análises

Pesquisadores apresentaram diferentes análises e explicações para o setor público pagar mais que a rede particular.

Para Samuel Pessoa, professor da FGV-RJ que estuda os rendimentos dos docentes, "a carreira de professor da rede pública não é tão ruim como afirmam". Schwartzman complementa: "Não é à toa que todos que podem tratam de conseguir um emprego público".

A análise do pesquisador da USP-Ribeirão Preto José Marcelino Rezende Pinto, ex-diretor do Inep (instituto de pesquisas do MEC), é diferente. "Independentemente da diferença entre público e privado, os professores no país ganham mal" (leia mais nesta página).

O assessor especial da Unesco no Brasil, Célio da Cunha, diz que a média esconde diferenças regionais. "Há redes públicas próximas ao adequado. Outras pagam mal. O mesmo ocorre na rede privada."

A coordenadora da Contee (entidade que representa os professores do ensino particular do país), Madalena Guasco Peixoto, afirma que os salários da rede privada são mais baixos no ensino fundamental porque, nesse nível de ensino, quase toda a população já foi atendida.

"A presença do setor público é muito forte e, por isso, as escolas não precisam disputar alunos. Oferecem apenas o básico do básico", disse.

"No médio, como ainda há muita gente fora da escola, elas precisam brigar pelos estudantes. Assim, pagam melhor", completou Peixoto, que é pesquisadora da PUC-SP.

Uma explicação possível, afirma o presidente da Fenep (federação das escolas particulares do país), José Augusto Lourenço, é que incentivos tributários oferecidos a partir da década de 90 (o Simples) estimularam a abertura de escolas de pequeno porte, que têm menos condições de pagarem salários melhores. "Isso mostra que também há escolas particulares com baixa qualidade."

Para a presidente da CNTE (entidade que representa professores da rede pública), Juçara Dutra Vieira, "os dados apontam mais para um agravamento na rede privada do que uma situação ideal na pública".

Rais

Além da Pnad, a Rais (Relação Anual de Informações Sociais), do Ministério do Trabalho, também aponta que a rede pública paga mais.

Com base em 2006, o trabalho mostra que a média salarial dos docentes dos ensinos infantil e fundamental na rede federal era de R$ 5.640; na rede estadual, R$ 1.656; na particular sem fins lucrativos, R$ 1.431; e na particular com fins lucrativos, R$ 740 -as divisões são diferentes das da Pnad.

Um em cada 5 jovens não completou o ensino fundamental

21/01/2008 - 02h52
da Folha Online

Reportagem da Folha de S.Paulo (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal) mostra que um em cada cinco jovens entre 18 e 29 anos e que vivem em cidades abandonou a escola antes de completar o ensino fundamental.

Segundo trabalho feito pela Secretaria Geral da Presidência da República com base na Pnad 2006 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, dos 34 milhões jovens urbanos do país, 7,4 milhões tiveram de um a sete anos de estudo --período insuficiente para concluir o ciclo-- e 813,2 mil são analfabetos.

No topo da lista de exclusão estão cinco Estados do Nordeste. O líder é Alagoas, com 46% dos jovens em uma dessas duas situações. Na outra ponta do ranking está São Paulo, com 15% de exclusão.

"Há 20 anos, quando muitos desses jovens estavam em idade escolar, o sistema de ensino apresentava uma cobertura menor e uma exclusão maior", declara o professor Fernando Tavares Jr., da Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais. "Por outro lado [há 20 anos], a reprovação e a evasão eram bem maiores. Os dois fatores conjugados produziram uma exclusão educacional maior nessa geração", completa.

Um quadro geral sobre a péssima situação da educação nacional pôde ser visto em dezembro, com os resultados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). Entre 57 nações avaliadas, os alunos brasileiros obtiveram a 53ª posição em matemática, a 52ª em ciências e a 48ª em leitura.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Curso inusitado amplia oportunidade no mercado de trabalho

FERNANDA CALGARO
da Folha de S.Paulo
DANIELA ARRAIS
Colaboração para a Folha de S.Paulo

O peso da tradição aliado à incerteza gerada pelo vestibular faz com que muitos estudantes optem por carreiras mais convencionais, como medicina e direito. No entanto, um mercado em expansão, formado por graduações de nomes um tanto esquisitos, pode representar boas oportunidades de crescimento profissional.

Um exemplo é a quiropraxia, técnica de massagem para ajuste da postura que surgiu no final do século 19, mas só chegou ao Brasil como graduação em 2000. "É uma profissão da área de saúde que funciona como alternativa para cirurgias ou medicamentos", explica Song Kim, coordenador do curso da Universidade Anhembi Morumbi. Em quatro anos e meio, o aluno vê disciplinas como anatomia e fisiologia.

Julia Pontes, 21, está no oitavo semestre e é apaixonada pela área. "Sempre quis fazer algo ligado à coluna. Pensei em fisioterapia, mas meu avô descobriu, pela televisão, a quiropraxia e resolvi fazer o curso."

Outro curso inusitado é o tecnólogo de manutenção de aeronaves oferecido pela UniSant'Anna. O objetivo é preparar um profissional com conhecimentos técnicos, capaz de gerenciar equipes e administrar processos na área da aviação.

O aluno, que será um intermediário entre técnico e engenheiro, aprende sobre motores aeronáuticos, estruturas e sistemas de aeronaves, prevenção de acidentes, aerodinâmica e helicópteros.

A Uniplac (Universidade do Planalto Catarinense) tem o curso de engenharia industrial madeireira, com duração de cinco anos. "É voltado para quem quer atuar na transformação mecânica e química da madeira, em processos industriais, que vão da produção de partículas para papel a movelaria", diz o coordenador Antônio Carlos Néri, coordenador.

No curso de comunicação das artes do corpo, o universitário pode escolher entre três habilitações: teatro, dança e performance. "Difere de artes cênicas porque tem uma carga teórica bem mais significativa", afirma Naira Ciotti, coordenadora pedagógica do curso da PUC-SP, criado há nove anos.

Existem carreiras mais antigas até, mas que ainda não foram "descobertas" pelos estudantes, apesar de haver grande procura pelo profissional. É o caso de ciências atuariais. A PUC-SP oferece o curso desde 1952. O atuário desenvolve planos de seguros e de previdência e avalia riscos, inclusive de investimentos em bolsa. "Pelo déficit de profissional, quem sai da faculdade sai empregado. Com cinco anos de formado, chega-se a ganhar R$ 10 mil", diz Antonio Carlos Lopes Alvares, coordenador do curso.

No forno

Em 2008, os vestibulandos terão mais opções pouco ortodoxas. Na Anhembi Morumbi, o curso de tecnologia em bebidas ensinará desde produção e desenvolvimento do produto até gestão e serviço de bebidas alcoólicas e não-alcoólicas.

Também começará a primeira turma de visagismo e terapia capilar. O nome vem de "visage", que significa rosto em francês. O curso foca nos cuidados com a haste capilar e o couro cabeludo e prepara o profissional para trabalhar com a imagem pessoal do cliente.

Na FMU, serão oferecidos os cursos de tecnologia em segurança da informação, desenvolvimento de jogos digitais e sistemas para a internet, com enfoque no comércio eletrônico.


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